O Poder da Espada, série A Primeira Lei, de J. Abercrombie

segunda-feira, 12 de maio de 2014 0 comentários


Título: O poder da espada
Série/Coleção:  A Primeira Lei
ISBN: 9788580411874
Autor: Joe Abercrombie
Tradutor: Alves Calado
Ano de lançamento: 2013
Editora: Arqueiro
Páginas: 480
Tempo de Leitura: (pouco menos de) 5h
Classificação: 

Como já de costume, mensalmente o grupo Nerds & Encrenqueiros do Gooreads.com escolhe uma leitura. A de abril foi esta: O poder da espada - A primeira lei, de Abercrombie.
Óbvio que inicialmente eu não confiei que seria uma boa leitura - prefiro sempre pensar que será um livro péssimo; caso ele seja eu não ficarei decepcionado por ler (ainda mais durante meu treino de velocidade). Caso ele seja razoável eu terei adquirido conhecimento, aprendido sobre a escolha de manuscritos a serem traduzidos, etc. Quem estiver disposto a ler uma (nada pequena) elucubração minha sobre a aprendizagem da realidade em livros de ficção leia o colchete de Divagação. Caso contrário podes ir à apresentação do livro logo em seguida.
[DIVAGAÇÃO MODE ON/] Quanto àquele tópico - aprendizagem - eu me permito divagar aqui. Há quem diga que não se aprende nada ou muito pouco de livros de ficção. Não é verdade. Eles são mundos - daí o nome deste blog - que remontam a conjuntos de comportamentos, crenças, divagações e momentos que o autor cria / revela / esclarece a respeito de nosso próprio mundo. Isto ocorre já que não há outros modelos de mundo com vida inteligente - por enquanto -  a serem transmitidos. Então os valores demonstrados nos livros de ficção estão mais próximos - é a minha visão - da realidade do que livros de auto-ajuda ou ensaios críticos.
Esclareço. Academicamente ver o mundo a partir do ensaio de um autor é compreender como ele aprende a definir a visão de mundo pela reunião de alguns autores, de áreas diferentes ou da mesma área. A visão do sujeito é técnica e já limitada pelas verbalizações específicas de uma área e termos técnicos. Isto diminui a possibilidade dele compreender a visão de outras áreas, cujos termos são diferentes e (terrivelmente) dificulta o alicerce de uma ciência geral. Por isto cada área fala "uma língua" e os resultados não são passíveis de relação. Por exemplo a aquisição de habilidades motoras em esportes - Educação Física - não é percebida enquanto o mesmo fundamento da aprendizagem de habilidades cognitivas como "percepção de objetos" - Psicologia -, e menos ainda com aprendizagem de reflexão e lógica - Filosofia e Pedagogia.
Ou seja, cada um fala uma língua, num mundo que aparentemente é o mesmo, contudo com variáveis distintas atuando sobre o mesmo sujeito de pesquisa: o ser humano.
A ficção - que eu prefiro fantástica e científica - não tem esta limitação. Nem a temporal ela responde. Autores podem descrever homens das cavernas ou civilizações espaciais espalhadas pelo cosmo, passando pelo desenvolvimento de feudos ou reunificação de países. Em qualquer âmbito o ser humano se comporta adequadamente ou inadequadamente para atingir seus fins, seja altruísta ou egoístas. No final existe um caminho do protagonista a ser trilhado, consequências das escolhas colhidas e compreensão da cultura de uma época apresentada. [/DIVAGAÇÃO MODE OFF]
Ao livro agora.
A página do livro no site da editora apresenta alguns apontamentos de personalidades, revistas e colunas de jornais. Alguns deles sugerem que o livro é "divertido". Bem, ele não é. Mas tenta. Por isto levou três estrelas - sim, apenas por este aspecto infeliz.
O livro se inicia pela narrativa de Logen, Nove Dedos, salvando-se do que era aparentemente sua morte - para seus companheiros foi, verificar no decorrer dos capítulos. Interessante notar que ele fala com os espíritos - seja lá em que dimensão/natureza vivam/sejam. Ele é capaz disto e é um dos poucos, ou o único, no mundo. O sujeito parece resistente e determinado. Mas não demonstra ser grande, forte e rude, como é apresentado depois na visão de outros personagens.
Sim, lembra a proposição de G. R. R. Martin a respeito dos capítulos por personagem. Mas é isto que torna o livro interessante e o salva do fiasco que é sua tentativa de ser engraçado em alguns capítulos. O desenvolvimentos dos personagens é excelente. Com profundidade - até em demasia - de pensamentos e fins.
Há um idoso deficiente que foi um herói do passado. Um esgrimista da capital - exibido, alcoólatra e mulherengo -, um grupo de bárbaros dissidentes de um reino do norte, uma assassina sulista (quase) incontrolável, e o citado Logen. Percebe-se que a trama envolve a capital, norte e sul nas intermináveis lutas por território.
Aí se inserem mistérios da formação da capital e da magia (finalmente!) que envolve os dissidentes cientistas da universidade, e os inquisidores - como o idoso citado.
A descrição é detalhada quanto aos personagens, não quanto ao ambiente. Por isto é difícil imaginar a Casa de Perguntas, a Casa do Artífice ou a sala do Primeiro Mago, ainda nas áreas da fronteira. Mas deixo claro que a "sensação" expressa pelo autor na entrada da Casa do Artífice é incrível e bem feita. Ponto para ele. Mas as perguntas continuam e mais questionamentos são lançados com o decorrer da trama.
Próximo ao fim da trama há a adição de um navegador. Aparentemente uma profissão que exige conhecimento territorial do mundo inteiro e habilidades de negociação, compreensão e linguística que outros sujeitos não seriam capazes sozinhos.
De uma forma geral é um bom livro para se ler antes da coleção As Crônicas de Nárnia, de Lewis, e As Brumas de Avalon, de Bradley. O primeiro pela riqueza na descrição do mundo e das magias - não citei nenhuma aqui para não estragar a surpresa. O segundo devido a complexidade dos pensamentos e escolhas pessoais. O livro perde para as duas obras citadas de acordo com o exposto acima.
Não gosto de conjecturar, mas perde também para O Trono do Sol, de Farrell, já que o livro tem um nome: O poder da espada e a série A primeira lei, mas não se vê guerras para justificar o livro, e a primeira lei é simples. Além de que deveria valer para todos, mas são estudadas apenas por magos - e são tabus para todo o restante.
Enfim, é um livro cheio de detalhes quanto aos personagens, contudo com baixa complexidade narrativa - que no meu entendimento de leigo da área quer dizer reunião de quebra-cabeças. Fico no aguardo de maiores detalhes dos comedores - aparentemente quebraram a segunda lei ao ingerir um tipo de carne, e shankas - animais não-humanos com fins bélicos.
Quanto à capa ela é simples e não apresenta nada crucial para imaginação dos reinos em guerra ou dos personagens. Pensando agora eu daria duas estrelas, mas me lembro das reflexões de Logen e do idoso, Sand, e volto a pensar nas três estrelas.

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