Orador dos Mortos de Orson Scott Card

sábado, 15 de março de 2014 0 comentários
Título: Orador dos Mortos (original Speaker for the Dead)
Autor: Orson Scott Card
Ano de lançamento: 2007
Editora: Devir
Páginas: 464
Tempo de Leitura: 4,5h
Estrelas: 4/5

Como disse na postagem anterior, o objetivo da leitura e discussão deste mês do grupo do GoodReads Nerds & Encrenqueiros - nomenclatura que achei completamente adequada para meu histórico - era este livro, segundo dos cinco de O. S. Card.
Admito que, apesar de mais melodramático que o anterior, ele tem um encadeamento muito bom, o que o faz superar o anterior que é mais juvenil e com menores recursos linguísticos.
Neste livro Ender - o Exterminador em português - é o homem mais antigo do universo, junto com sua irmã, a mulher na mesma condição. Explico.
Com a utilização da tecnologia dos Insecta, os humanos conheceram novas formas de terraformação / colonização dos planetas descobertos passíveis de sustentar vida humana.
Deves te lembrar da tecnologia de comunicação instantânea chamada de ansible. Tal tecnologia proporcionava comunicação entre a Terra, as naves da frota e o comando fora do nosso planeta de maneira mais próxima possível da comunicação dos Insecta, agora extintos - ou quase - por Andrew Ender Wiggin.
O jovem prodígio é agora chamado de Xenocida - exterminador de uma espécie. Viajou bastante entre os planetas em sua nova função - criada por ele mesmo - e com a nomenclatura original: Andrew Wiggin. Perdeu-se o Exterminador, o nome do meio Ender, típico de atuais lutadores de Mixed Martial Arts (MMA).
O que isto pode representar?
Imagina que o famoso Lyoto The Dragon Machida passe a usar apenas Lyoto Machida, sem o The Dragon, isto poderia simbolizar o término de sua carreira enquanto lutador de MMA e voltar a ser professor de Karatê.
A isto, por pura analogia simplista, pode-se igualar a perda do título Ender de Andrew Wiggin. Agora Orador dos Mortos, autor de dois livros conhecidos e reverenciados na Galáxia ocupada por humanos: 1) Rainha da Colméia e 2) Hegêmona.
Seu cargo, Orador dos Mortos, é assim chamado devido ao papel de compreensão dos atos dos indivíduos e revelação da verdade sobre suas intenções durante a vida. Ender não é o único Orador, mas o primeiro.
Aqui, posterior a este prelúdio, posso começar a falar sobre a história.
A espécie humana não se espalhou pela estrelas como espécie, mas como um conglomerado geopolítico  e religioso, cuja colonização dos planetas revela a permanência de (aparentemente) eternas lutas geográficas e religiosas.
Ender e Valentine, sua irmã, se encontram em um planeta de colonização primordialmente nórdica, Trondheim, cuja crença protestante leva os dois irmãos a debates com alunos a maior parte do tempo - eles lecionam em uma universidade deste planeta.
Luzitânia é um outro planeta colonizado, contudo tem aspecto completamente diversificado dos demais, possui uma espécie inteligente, a única outra depois dos Insecta: os chamados porquinhos - revê a capa da edição da Devir para entender.
Apesar de ser uma espécie inteligente e, aparentemente, com facilidade enorme para compreensão de novas línguas, não são avançados tecnologicamente. Isto os faz alvo de pesquisas baseadas numa evolução da antropologia, que, ao mesmo tempo, protege a espécie da contaminação tecnológica e observa as ideias. Isto poderia evitar o alcance tecnológico suficiente para que estes sujeitos dominem os humanos, como tentado pelos Insecta há três mil anos.
Sim, passaram-se três milênios desde a derrota da espécie alienígena por Ender. A explicação não se mostra tão ilógica: a viagem entre planetas de Ender e Valentine é feita em uma velocidade tão grande que para eles o tempo passa de uma forma diferente, atingindo-os menos que aos outros que permanecem nos planetas sob efeito do tempo. Isto faz com que o autor Orador dos Mortos, Ender, seja apenas um mito e exatamente o oposto da alcunha de Xenocida obtida pelo menos indivíduo. Ou seja, Ender é o destruidor e o Orador dos Mortos é o honrado e justo rememorador. O autor insiste neste ponto em muitos trechos, o que torna a recapitulação desta ideia um clichê no próprio livro.
Cabe ressaltar o papel de Jane, personificação da quarta inteligência da Galáxia - 1) Humanos, 2) Insecta, 3) Porquinhos e 4) Inteligência Artificial. O ansible é o "corpo" de Jane. Ender é o único humano, antes do fim do livro, que sabe de sua existência e interage com ela por meio da pedra em sua orelha - detalhes não são ditas sobre a localidade mais exata, a cor indicativa de transmissão, ou o botão ON e OFF utilizado pelos usuários deste tipo de implante.
Volto, então, à colônia Luzitânia que tem este nome pela colonização católica, predominantemente brasileira - sim, como se houvesse apenas católicos neste conturbado país. Há também uma (fictícia) ordem católica pouco explanada chamada Filhos da Mente de Cristo - provavelmente alvo do próximo livro Filhos da Mente. Nesta colônia há presença de estudiosos da espécie inteligente que tem modus operandi completamente distinto dos humanos quanto à passagem para "vida eterna", ou seja o que há depois da vida (além do túmulo?!).
Um Orador dos Mortos é chamado depois do assassinato pelos porquinhos de um dos estudiosos de sua espécie e assim se inicia a problemática Ender-Valentine. Eles se separam em Trondheim e o Orador, por sugestão de Jane, vai para Luzitânia. Na vida dele só se passariam duas semanas, na de Valentine 22 anos, com sua filha já crescida - quando Ender parte ela esta grávida apenas.
Ao chegar a Luzitânia o orador Andrew Wiggin se depara com mais mortes, uma complicação religiosa e seguimento de regras que o leva novamente a entrar em conflito com autoridades, mais mortes e a compreensão da espécie nova.
[SUPER SPOILER/] Há também o cumprimento de sua promessa à Rainha e depósito em um planeta de seus ovos para ressurgimento da espécie. O Xenocida se torna o Salvador [/SUPER SPOILER].

De modo geral o livro é melhor que o primeiro, como dito acima. O que é inusitado, dado que os segundos, em geral, são mais explicativos e avançam menos na história. Contudo não me deixo enganar e reafirmo a pobre descrição de personagens e ambientes pelo autor, excesso de drama e inequívoca estilística no início de cada capítulo que, em geral, não acrescenta muito ao enredo - se eu fosse antropólogo teria processado o autor pela baixa representatividade das tentativas de Caderno de Campo.

Com estas impressões espero não ter desencorajado o leitor a se aventurar pela saga de Ender. Não perdi meu tempo, apenas sugeri alguns pontos não tão fantásticos na obra.

Caso haja discordância ou outros apontamentos basta comentar abaixo.

Fonte da Imagem: 9021113.jpg

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